Semana Santa, Terça-feira

Sergio de Souza
2 min readMar 30, 2021

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“A consciência de Judas”, Nicolaj Re, 1891

A agudeza da consciência de Cristo acerca de sua missão e do significado profundo dos acontecimentos daqueles dias é impressionante. A luz do Verbo, que torna tudo inteligível a partir de sua própria humanidade, ilumina todo homem.Sua consciência penetrante desconcerta os apóstolos.

O evangelho de hoje é o relato de uma profunda crise das consciências. A consciência pesada de Judas. A consciência espantada dos apóstolos. A consciência (ainda) obnubilada de Pedro. A Páscoa também é a páscoa das consciências.

Consciência sem crise é consciência rasa. Simeão profetizou que Jesus “estava destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens, a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações”. A luz de Cristo revela nossa sombra. A tão amaldiçoada “culpa católica”, que deveria ser chamada simplesmente culpa humana, é na verdade uma bênção. Sem culpa, não há crise, não há crescimento. Quando Cristo revela que seria entregue por alguém do grupo, cada apóstolo começa a perceber no fundo do coração a possibilidade concreta de trair o Salvador. É o início da crise.

A jornada pascal de Cristo e dos personagens que o acompanham rumo ao Calvário é um caminho de formação de consciência. “A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz. “ (Catecismo da Igreja Católica). O Cardeal Newman ensinou que não abrimos mão da consciência nem diante da autoridade do Papa, mas também que a consciência precisa ser formada porque tem direitos e deveres.

A Semana Santa é a possibilidade de contemplar o drama da Verdade encarnada que sofre, morre e ressuscita pela libertação de nossas consciências.

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Sergio de Souza
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Written by Sergio de Souza

Trabalho com produção de conteúdo textual. Brinco de traduzir The Red Hand Files.

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