Semana Santa, Sexta-feira
A paixão de Cristo é a descida mais baixa do homem. É a desfiguração do pecado realizada na carne. Diante do Verbo Encarnado, o homem diz “Não!” e ainda reage com violência extrema. É o inferno sobre a terra. É até onde o homem pode descer ao renegar Deus; e até onde Deus pode ir por amor ao homem.
Esta desconstrução do homem por causa das consequências do pecado pode levá-lo à morte espiritual quando este se deixa vencer pelo orgulho, mas pode fazer com que se erga da lama fétida do erro rumo à glória da santidade quando se deixa guiar pelo amor.
O único homem que se deixou conduzir pelo amor até às últimas consequências foi Jesus Cristo. Olhar para Jesus neste dia de sua paixão é observar um homem que não se deixa guiar pelos impulsos sensíveis, mas domina suas emoções pela decisão de amar. O amor é antes uma decisão do que um sentimento. Jesus é homem e “sente”, mas crucifica a carne com seus apelos. É um homem cheio do Espírito Santo e do amor de Deus.
Deixar que participemos deste amor é uma dádiva. “Tome a sua cruz e siga-me”. Ter apreço pelo sofrimento é vislumbrar o valor que tem a cruz para nós, que fomos “desconcertados” pelo pecado original. Não é masoquismo, é uma espécie de compreensão profunda da condição humana. O orgulho ergue, o sofrimento leva ao chão, a graça reergue. Jesus, elevado na cruz, atrai todos a si. Ser elevado é subir pela cruz e abraçar a Jesus Cristo.
O apóstolo entendeu maravilhosamente a ciência da cruz:
“Estou pregado à cruz de Cristo.
Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.” (Gal 2,19-20)
A cruz é a fonte do método e da graça.