Semana Santa, Segunda-feira
No evangelho de hoje, Maria de Bethânia unge os pés de Jesus com quase meio litro de perfume de nardo puro muito caro, e enxuga-os com seus cabelos. A casa inteira fica cheia de perfume. Judas, com um discurso pragmático e pseudo-social (que encobria sua ladroagem), destaca a “inutilidade” do gesto de Maria, pois teria sido melhor ter gastado a quantia com os pobres.
Jesus, no entanto, aceita a oferta de Maria: “Deixa-a; ela fez isto em vista do dia de minha sepultura. Pobres, sempre os tereis convosco, enquanto a mim, nem sempre me tereis”.
Enquanto Marta simboliza a via ativa e Lázaro a via ascética, Maria é representante da via contemplativa. O nardo puro é símbolo da oração de oferta, da oblação, do louvor e da adoração pura, de tudo que podemos colocar na patena, mesmo nossos pequenos atos cotidianos aparentemente insignificantes; tudo o que custa, mas também toda alegria e júbilo, nosso trabalho e nossa arte, nossa cultura e tudo o mais que pode ser reunido em um coração entregue a Deus. O bálsamo puro que enche a casa de perfume e vai atravessar o limiar da morte com Jesus, da sepultura à ressurreição, é símbolo de todo o nosso sacrifício (sacre + facere = fazer sagrado), todo fruto de nossas mãos, corações e mentes, oferecidos aos pés do Senhor.
Já não podemos dizer que há tarefas sem sentido, por mais banais que pareçam: uma dona de casa que varre a casa e prepara um almoço pratica um “fazer santo”, um operário que aperta um parafuso, um auxiliar de escritório que lança duplicatas… Mas também as tarefas mais nobres estão revestidas deste “fazer santo”: um compositor que respira fundo em busca de inspiração, um poeta que mede seus versos depois de uma epifania, um professor que prepara uma aula…
Tudo é oferta.