Semana Santa, Domingo de Ramos
Todo ano sou convidado para ser leitor da Paixão de Cristo na liturgia do Domingo de Ramos. Neste ano não aceitei. Vai ser significativo estar simplesmente na assembléia que grita "Crucifica-o!" logo depois de cantar Hosanas ao Salvador. O próprio Cristo permite, mas não participa da alegria dos Hosanas. Ele entra em Jerusalém com a consciência plena de sua missão - Eis que venho fazer vossa vontade, Pai, ofereço meu corpo pela salvação de muitos - enquanto nós, povo, cantamos: Hosana ao filho de David! A leitura da paixão dá conta do que se passava no coração de Jesus. Ele está silencioso como ovelha conduzida ao matadouro; nós estamos fazendo festa e cantando: hosana!!! Que disparidade de coração!
Ele está com o rosto duro voltado para o calvário, em sua inexorável determinação. Seu corpo é humano como o nosso, mas sua vontade está mergulhada numa consciência tão profunda, que é um abismo insondável de liberdade e misericórdia...
Ele é o Verbo imutável, nós já mudamos o nosso grito e nossa canção; não bradamos mais Hosanas, mas "crucifica-o!"
O drama histórico da salvação, a paixão, morte e ressurreição, é acompanhado do drama interior de Jesus, a paixão da alma, a oração contínua nos lábios despedaçados, e da grande libertação espiritual que se desenrola na eternidade...
Durante esta semana, a liturgia colocará diante do nosso olhar um belíssimo panorama: a história, o mundo interior de Jesus e o âmbito espiritual, que até a morte do Salvador permanecerá na sombra do véu.
Também nos fará olhar para o drama histórico que acontece hoje e sua relação com Jesus, sua Cruz e Ressurreição. O nosso drama ecoa no coração de Jesus e reverbera na eternidade.
Começamos a Semana Santa: estes foram os dias que Deus escolheu para salvar o mundo.