Pop orquestral

Sergio de Souza
4 min readNov 22, 2022

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Para comemorar o dia do músico, memória litúrgica de Santa Cecília, uma listinha de “pop orquestral”.

Nick DRake com a família

Pesquisando para um texto sobre Nick Drake, chego à conclusão de que a lista dos melhores discos de música pop de todos os tempos que combinam baixo-guitarra-bateria-teclados com arranjos de cordas e metais (orquestra), talvez seja a mesma lista dos melhores álbuns de música pop de todos os tempos.

Aqui uma listinha de álbuns de “pop orquestral” com alguns comentários:

The Beatles — Revolver, Sgt Peppers e Abbey Road

George Martin e Paul

Um dia Paul McCartney sonhou com uma música. Acordou e a escreveu. Quando foi gravá-la, ao violão, George Martin sugeriu acrescentar um quarteto de cordas. Fez um arranjo barroco com acento bachiano. A canção era Yesterday. Os Beatles nunca mais abandonaram a ideia de mesclar elementos e instrumentos clássicos à sua música. Estava inaugurado o pop barroco, de álbuns como Revolver e Sgt. Peppers.

Bem, o Abbey Road, o melhor álbum dos Fab Four, já era um passo à frente, mas também apresentava maravilhosos arranjos orquestrais para Something, Here Comes The Sun, Golden Slumbers, Carry That Weight e The End.

Tudo arranjado e conduzido por George Martin.

Nico — Chelsea Girl

Nico

Reza a lenda que Nico achou uma porcaria quando ouviu seu álbum de folk rock (a banda que tocou no álbum foi o Velvet Underground) transformado num disco de folk de câmara cheio de cordas barrocas e flautas arranjado por Larry Fallon. Duvido que ela não tenha gostado mesmo. Pouco importa, nós amamos.

Beach Boys — Pet Sounds

Brian Wilson

Não há muito o que dizer. Pet Sounds não é um álbum, é uma experiência. Nunca mais ninguém gravaria um álbum de música pop com orquestra (e instrumentos exóticos) desse jeito. Nem os Beatles.Nem o próprio Brian Wilson.

Marvin Gaye — What’s going on

Marvin Gaye

Ouvir as cordas isoladas da canção-título (tem no YouTube) dá a exata noção do gênio de Marvin Gaye, que não escrevia, mas gravava fitas assobiando as frases dos violinos, transcritas depois pelo regente/orquestrador David van DePitte. Coisa de louco. Pra ouvir de joelhos.

Nick Drake — Five Leaves Left e Bryter Layter

Drake não gostou dos arranjos originais feitos para o seu primeiro disco. Chamou seu amigo, Robert Kirby, amante de Bach, e especialista em arranjos de corda para refazê-los. Kirby e Drake fizeram do folk uma arte barroca. A dupla gerou essas duas obras-primas absolutas.

O arranjo de River Man, talvez a canção mais emblemática do cantor e violonista, foi feito por Harry Robinson.

Van Morrison — Astral Weeks

Van Morrison

Pobre Larry Fallon. Nico detonou seus arranjos para Chelsea Girl e Van Morrison assim se expressou o seu trabalho em Astral Weeks: “Eles arruinaram o trabalho. Adicionaram cordas. Eu não queria as cordas. E eles enviaram para mim, estava tudo mudado. Isso não é ‘Astral Weeks’.”

Mas Van The Man estava errado. Isso é Astral Weeks, sim. É lindo, e com belíssimas cordas.

The Smiths — The Queen Is Dead e Strangeways Here We Come

The Smiths

Os arranjos de cordas emulados num sintetizador Roland por Johnny Marr emolduraram pelo menos três canções que estão entre as mais constantemente citadas pelos fãs — e pelo próprio Marr — como a número um da banda: I Know It’s Over, There is a Light that Never Goes Out e Last I Dreamt that Somebody Loved Me.

Morrissey — Viva Hate

Morrissey e Stephen Street numa pausa durante a gravação de Viva Hate

Para contrastar com as cordas sintetizadas dos dois últimos álbuns dos Smiths (e talvez para implicar com Johnny Marr), o produtor Stephen Street e Morrissey contrataram um quarteto de cordas de verdade, que brilhou sobretudo em Everyday is like Sunday e na dramática Angel, down we go together (só com as cordas e uma interpretação marcante do cantor).

Love - Forever Changes

Love

Um dos discos mais bonitos dos anos 60. Se com os Beatles e os Beach Boys a coisa soava grandiloquente, com o Love os arranjos orquestrais compunham um panorama mais simples, embora não menos sofisticado: climas acústicos, dedilhados delicados de violão, sonoridade folk-psicodélica,modulações nas harmonias. Eis o “baroque pop”, ou pop de câmara, em sua versão menos megalomaníaca. “The Red Telephone” é de arrepiar.

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Sergio de Souza
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Written by Sergio de Souza

Trabalho com produção de conteúdo textual. Brinco de traduzir The Red Hand Files.

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