Patti Smith fala sobre Hermann Hesse
“Nós, que percorremos o país da mente, suportando a paisagem dura e exigente enquanto viajamos para o oriente, confiamos em Herman Hesse como nosso guia. Vemo-lo um passo à frente, vestido com linho quente imaculado; curvado, mas ágil, deixando sinais ao escalar precipícios inexplorados, palavras gravadas na pedra, que se apagam, enquanto perturbam a alma. Você não está sozinho. E, no fim das contas, você está sozinho.
No topo das montanhas, acima do lago brilhante, os ideais de fraternidade e a necessidade da solidão serpenteiam. Jantamos pétalas espalhadas neste curso paralelo. É o caminho traçado por Hesse. É traiçoeiro e divino, e existe em sua obra e em um cenário de sua vida — Montagnola*, onde escreveu “Siddhartha”, “O Último Verão de Klingsor” e “Magister Ludi”. Ele recebeu o prêmio Nobel por este último em 1946. Foi seu último grande trabalho. A máquina de escrever utilizada por ele ainda está iluminada, inundando a sala onde trabalhava. As teclas se espalham como contas de vidro de Joseph Knecht, que o acólito agarra e toca, como um rosário.
Durante sua vida, o povo de Montagnola celebrou seu nascimento, assim como nós, pois deu-nos um presente que perdura pela história da humanidade: o jogo das contas de vidro, um sistema de conhecimento que, ao fim, não é sistema algum, exceto em nossa extensível imaginação”.
–Patti Smith
*Montagnola é uma comuna localizada na Suíça, que fica a poucos quilômetros ao sul da cidade de Lugano, no Tessino, e possui cerca de 2.100 habitantes atualmente. Desde o ano de 2004 foi unida às comunas de Gentilino e Agra numa comuna única, Collina d’Oro. Em Montagnola o escritor alemão Hermann Hesse viveu seus últimos anos de vida. (Wikipédia)