Patti Smith: “Eu vi muitas coisas bonitas e muita tristeza”.
Entrevista com Patti Smith na UnCut.
“De certa forma, há ainda uma semente da jovem punk-rocker em mim, mas também há todas as coisas que aprendi como ser humano. Eu evoluí. Eu criei filhos. Eu me casei, amei meu marido e fiquei viúva. Eu vi muitas coisas bonitas e muita tristeza. Estou muito feliz por estar viva e ainda trabalhando.”
Quando você olha para trás, para si mesma, no início de sua carreira, o que vê?
Bem, eu era jovem e inexperiente. Nem sabia usar o microfone. Olho para mim no passado como você olharia para uma criança que te faz sorrir, mas que, ao mesmo tempo, você tem que admirar-lhe a coragem. Não sei de onde veio essa disposição para a coragem, pois posso enxergar todas as minhas falhas. Eu sempre disse que éramos uma banda cheia de imperfeições. Eu era uma cantora fraca; não era particularmente talentosa, mas tinha coragem. É ridículo julgar seu “eu” jovem. Sei que tudo o que fiz, por mais questionável que tenha sido ou por quantas pessoas possa ter ofendido no caminho, foi para tentar abrir território, abrir espaços para as novas gerações.
Nenhum arrependimento?
Eu não me arrependo de nada do que já fiz. Eu gostaria de ter sido mais atenciosa com minha mãe às vezes. Todos nós temos arrependimentos pessoais, mas como artista, sempre fiz o melhor que pude.
O quanto você está diferente hoje?
Eu tenho 73 anos. Não tenho a mobilidade, a energia ou a irreverência que tinha quando era jovem; mas se as pessoas me derem um monte de merda, ainda posso tirar um “feedback” da minha guitarra. Eu preferiria socar meu pé num amplificador se me causassem muitos problemas. De certa forma, há ainda uma semente da jovem punk-rocker em mim, mas também há todas as coisas que aprendi como ser humano. Eu evoluí. Eu criei filhos. Eu me casei, amei meu marido e fiquei viúva. Eu vi muitas coisas bonitas e muita tristeza. Estou muito feliz por estar viva e ainda trabalhando.
Você gostaria de ter sido uma hit-maker?
Eu adoraria ter essa capacidade, sim. Você olha para alguém como Michael Stipe, um grande poeta que também sabe como colocar aquele acorde pop. Admiro isso. Seja Marvin Gaye ou Bob Dylan, John Lennon ou PJ Harvey — essas pessoas que podem infundir um certo elemento poético em uma canção popular. Eu amo música pop. Eu gosto das mesmas músicas que todo mundo gosta. Gosto da Adele, gosto da Rihanna, gosto da Billie Eilish. Eu adorava canções R&B quando era jovem. Eu amava Amy Winehouse. Mas eu gravito em direção a um tipo diferente de expressão.
Já passaram-se oito anos desde que lançou “Banga”. Você gostaria de fazer outro álbum de ‘rock’ mais convencional?
Estou escrevendo algumas letras e coisas para Stephan (Crasneanscki, do Soundwalk Collective). Acumulamos gravações, e nosso próximo projeto será todo um trabalho conjunto. Temos trabalhado simultaneamente em várias coisas, para o meu trabalho e para o dele.Já começamos naquele estúdio em Paris. Fiz monólogos de 14, 15 minutos. Não posso dizer mais nada, mas temos um lindo trabalho chegando.