A maldade, a arte e a esperança
Nick Cave responde à duas questões na edição 149 de The Red Hand Files
(tradução: Sérgio de Souza)
Devemos separar o artista da arte? (SHELLY, AMSTERDAN, HOLANDA)
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Qual é a sua definição de esperança? (CARLOS, RECIFE, BRASIL)
Caros Shelly e Carlos,
Não acho que possamos separar a arte do artista, e nem que devamos fazê-lo. Podemos olhar para uma obra de arte como a representação da transformação ou da redenção de um artista e maravilharmo-nos com a jornada milagrosa que a obra de arte percorreu até chegar à melhor parte da natureza do artista. Talvez a beleza possa ser medida pela distância que percorreu para nascer.
Que pessoas más façam boa arte é motivo de esperança. Ser humano é transgredir, disso podemos ter certeza, mas todos temos a oportunidade de redenção, de elevarmo-nos acima das partes mais lamentáveis de nossa natureza, de fazer o bem a despeito de nós mesmos, de fazer do não-belo a beleza, e ter a coragem de apresentar o nosso melhor ao mundo.
Janela afora, a lua está alta e amarela no céu: uma exibição de beleza sublime. É também um clamor por misericórdia — de que vale a pena salvar este mundo. No entanto, e acima de tudo, é uma expressão audaz de esperança, que, apesar do estado do mundo, a lua continue a brilhar. A esperança também reside em um gesto de bondade de um indivíduo alquebrado para outro, ou, na verdade, também podemos encontrá-la em uma obra de arte que vem das mãos de um malfeitor. Essas expressões de transcendência, de melhoria, lembram-nos de que existe na maioria das coisas existe o bem, e raramente a pura maldade. Uma vez que despertamos para esse fato, começamos a ver a bondade em todos os lugares, e isso pode ajudar de alguma forma a corrigir a narrativa atual de que os humanos são uma merda e o mundo está fodido.
Com amor,
Nick
